Abelhas sem ferrão transformam escolas do Paraná em laboratórios ambientais 20/10/2025 - 10:00

Nas escolas estaduais do Paraná, as abelhas sem ferrão deixaram de ser apenas tema de aula para se tornarem protagonistas da aprendizagem. Em colégios da rede estadual como o Júlia Wanderley e o Leôncio Correia, em Curitiba, as colmeias instaladas nos pátios, nas árvores e até nas paredes viraram parte da rotina dos alunos. Entre as atividades que passaram a fazer parte da rotina de aprendizagem está a alimentação das colmeias, o estudo do comportamento das espécies e o equilíbrio da natureza.

A iniciativa surgiu da proposta de Educação Socioambiental Interdisciplinar, integrante da grade curricular dos alunos do Ensino Médio, que usa a criação de abelhas nativas como porta de entrada para o ensino sobre biodiversidade, sustentabilidade e ciência.

Segundo o professor Gabriel Portugal, do Colégio Estadual Leôncio Correia, o projeto tem mobilizado meninos e meninas em prol da preservação ambiental e do conhecimento da natureza. “Nós temos 12 caixas de abelhas na escola e já mapeamos seis colmeias que se desenvolveram naturalmente no terreno da escola. São cerca de 4 espécies diferentes que criamos há cinco anos, tendo como maior objetivo ensinar os alunos sobre os benefícios e importância ecológica deste tipo de ecossistema”, conta o professor.

Segundo Gabriel, os estudantes aprendem na prática a importância de se preservar a espécie e inclusive provam o mel produzido dentro da instituição. “Eles aprendem a cuidar delas, manejar, alimentar no inverno, reconhecer as espécies e perdem o medo dos insetos e abelhas que em geral todo mundo tem. Ano passado conseguimos fazer algumas divisões de enxames, para gerar novos enxames a partir de uma matriz e neste mês de outubro estamos começando os estudos mais aprofundados sobre elas com nossas turmas”, detalha.

As abelhas, todas nativas e sem ferrão, como das espécies Jataí, Mandaçaia e Mirim, fazem parte da paisagem da escola em colmeias feitas de madeira e material reciclável. A cada semana, grupos de estudantes alimentam os enxames com xarope e proteína natural e observam a atividade das operárias. Os espaços também viraram abrigo de pesquisas, desenhos e redações sobre ecologia.

No Colégio Júlia Wanderley, a professora Rafaela Caroline Bartolamei, que coordena os projetos de sustentabilidade, detalha que as espécies de abelhas estão espalhadas pela instituição, já que há colmeias em árvores, nas paredes e até no cimento. “A gente tem uma sala verde e estamos começando a implantar o nosso Jardim de Mel, como é feito em ações governamentais. Ainda estamos no início das ações, mas acreditamos que já para o ano que vem teremos avançado bem nessa iniciativa”, afirma.

EDUCAÇÃO ECOLÓGICA EM REDE – Os colégios Júlia Wanderley e Leôncio Correia fazem parte de uma rede crescente de escolas estaduais que desenvolvem projetos próprios de meliponicultura educativa, inspirados em ações como o Poliniza Paraná e os Jardins de Mel de Curitiba, mas com foco direto no ambiente escolar e no protagonismo dos alunos.

As iniciativas incluem desde a instalação de jardins com plantas nativas até oficinas sobre polinização, alimentação saudável e reciclagem. As atividades envolvem professores de biologia, geografia, artes e até matemática, num trabalho interdisciplinar. O resultado é visível: as escolas relatam maior engajamento estudantil, melhora no clima escolar e fortalecimento da educação ambiental como prática permanente.

SUSTENTABILIDADE – O Paraná tem hoje mais de 30 espécies de abelhas nativas sem ferrão catalogadas, fundamentais para a polinização da Mata Atlântica e para a produção de alimentos. O Poliniza Paraná, um dos principais projetos dessa área, já conta com mais de 200 meliponários distribuídos em 29 municípios, instalados em parques urbanos, Unidades de Conservação e edifícios públicos, como os Palácios Iguaçu e das Araucárias. Nos próximos meses serão implantadas 87 novas colônias de abelhas nativas sem ferrão, com investimento estimado em R$ 92 mil.

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